Você conhece todos os métodos contraceptivos não hormonais e a eficácia de cada um?
Como sempre ressaltamos nos nossos conteúdos, acreditamos que todas nós devemos ter o direito de tomar as rédeas das nossas vidas e fazer escolhas conscientes em todos os seus aspectos.
E, para essas escolhas serem de fato conscientes e livres, precisamos de acesso a informações de qualidade. Afinal, sem conhecimento completo das nossas opções e seus prós e contras, não há escolha propriamente dita, né?
Pensando nisso, preparamos este guia de métodos contraceptivos não hormonais, destinado a quem quer conhecer as outras opções além dos anticoncepcionais para evitar a gravidez. Sim, elas existem!
Portanto, conforme já falamos no nosso post de Tudo o que você precisa saber antes de largar o anticoncepcional e no vídeo sobre o mesmo tema, é super importante estar preparada! Ou seja, de preferência, já habituada a outro método contraceptivo ao interromper o anticoncepcional. Isso caso você o utilize com fins de contracepção e principalmente se o utiliza como único método.
Mas, para entender como tudo isso funciona, precisamos compreender alguns conceitos importantes: taxa de falha e uso perfeito e típico. Bora lá?
Antes de tudo: métodos contraceptivos podem falhar
Quando falamos em contracepção, estamos basicamente falando de métodos que evitam a gravidez. Isso vale tanto para métodos contraceptivos não hormonais como os hormonais.
Estes métodos podem agir de diversas formas, e as principais são:
- inibindo o ciclo menstrual e a ovulação (métodos hormonais)
- impedindo que o óvulo e o espermatozoide se encontrem (métodos de barreira)
- mudando nosso comportamento sexual (abstinência de sexo pênis-vagina durante a janela de fertilidade feminina, por exemplo).
Inegavelmente, tudo isso é ótimo, pois os métodos contraceptivos são aliados no nosso planejamento familiar e nas nossas escolhas de vida. PORÉM:
Eles podem falhar. E infelizmente falham. Sabe a frase “nenhum método contraceptivo é 100% eficaz”? É verdade pura e comprovada.
Como tudo na vida, o funcionamento dos métodos contraceptivos, sejam eles hormonais ou não hormonais, está sujeito a falhas. Às vezes eles “falham” ou têm seu funcionamento afetado, mas não necessariamente engravidamos por conta disso. Afinal, uma gravidez acontecer ou não é outro jogo de probabilidades. Ou seja, difícil de mensurar.
Taxa de falha dos métodos contraceptivos
Ainda assim, a ciência e a estatística deram um jeito de nos fornecer informações sobre os métodos contraceptivos e nos dar possibilidades de escolha melhor informadas. Como? Analisando quantas gestações acontecem com o uso de cada método contraceptivo, sozinho, durante o período de um ano. A porcentagem dessas gestações é a tal da taxa de falha.
Portanto, a taxa de falha não nos diz a chance de um método falhar - da camisinha rasgar ou da pílula não ser bem absorvida, por exemplo. O que a taxa de falha de um método nos diz é o número de gestações, mesmo com o uso dele, em 1 ano. No caso, apenas as falhas que resultaram de fato em uma gravidez.
Dessa forma, quando um método tem taxa de falha de 3%, quer dizer que, a cada 100 mulheres que o utilizaram durante o período de 365 dias, 3 engravidaram. Isso também quer dizer que, das cem mulheres, 97 não engravidaram; ou seja: a taxa de eficácia é de 97%.
A soma da taxa de falha e da taxa de eficácia de um método contraceptivo é sempre 100%.
Uso perfeito e uso típico dos métodos contraceptivos
Cada método contraceptivo tem uma taxa de falha específica, mas você deve estar se perguntando: é sempre assim? Evidentemente não. Tem mais variáveis!
Imagine a situação: a Cecília e a Rafaela são amigas. Ambas possuem um útero e ovários trabalhando a pleno vapor e namoram rapazes que, bom, também possuem testículos trabalhando a pleno vapor.
Tanto a Cecília quanto a Rafaela têm vida sexual ativa, e utilizam a camisinha masculina como método contraceptivo com seus respectivos namorados.
Mesmo a camisinha sendo o único método utilizado pela Cecília e seu namorado, às vezes eles acabam “esquecendo” e transam sem camisinha. Ou então começam a penetração sem camisinha, “só um pouquinho”, e colocam ela depois - às vezes até quando ele está prestes a ejacular. Eles também não dão muita atenção para a data de validade das camisinhas e onde vão guardá-las. Geralmente, carregam uma camisinha na carteira mesmo.
Já a Rafaela e o seu namorado, que também utilizam apenas a camisinha masculina como proteção, utilizam ela em toda relação sexual e de forma super cuidadosa. Sem “brincadeirinhas”. Eles guardam as camisinhas em uma caixinha no quarto, longe da luz do sol e do calor, abrem o pacote com os dedos, conferem a pontinha, desenrolam a camisinha no pênis totalmente ereto (nada de “meia-bomba”!) e só então começam o contato do pênis com a vulva e a vagina. Após ele ejacular, ele mesmo faz questão de retirar o pênis imediatamente, ainda ereto, e segurando o anel da camisinha para não correr o risco dela escapar. Dá um nó, joga no lixo e eles dormem felizes de conchinha.
Vamos lá, você acha que a taxa de falha para o uso da camisinha que a Cecília faz é o mesmo que a da Rafaela? Pois é. Com toda a certeza não.
A Cecília e o seu namorado fazem o uso típico/comum da camisinha, enquanto a Rafaela e o seu namorado fazem o uso perfeito da camisinha.
O uso típico é quando um método não é utilizado sempre e/ou não é utilizado da forma correta. Já o uso perfeito é quando um método é utilizado sempre, e da forma correta.
A taxa de falha de um método geralmente é afetada pelo seu uso
No caso da camisinha, por exemplo, a diferença é gigante: enquanto cerca de 18 de 100 mulheres engravidam em um período de um ano fazendo o uso da camisinha tal como a Cecília e seu namorado, apenas 2 de 100 engravidam fazendo o uso, supostamente, tal como o da Rafaela e seu namorado.
Por isso, quase todos os métodos possuem uma taxa de falha para o uso típico e outra taxa de falha para o uso perfeito. E, às vezes, elas são discrepantes.
As taxas de falha são informativas, mas não devem nos provocar pânico. São muitas variáveis envolvidas e, bom, o sexo envolve riscos. Praticar sexo seguro minimiza muito esses riscos, e é esse o caminho que devemos buscar!
Tipos de contraceptivos
Ufa! Já entendendo o que é taxa de falha e uso perfeito e típico, vamos falar dos métodos contraceptivos não hormonais que temos disponíveis e da eficácia deles? SIMMMMM!
Este infográfico abaixo, do Modefica, nos ajuda a visualizar os métodos reversíveis (que não são laqueadura nem vasectomia). Eles estão separados por grupo (“naturais”, de percepção da fertilidade, hormonais e de barreira) e informam suas respectivas taxas de falha - tanto em uso típico quanto em uso perfeito.
Métodos contraceptivos não hormonais: quais são eles?
Na sequência, vamos falar dos métodos contraceptivos não hormonais mais comuns, dentre os reversíveis, separadamente:
Camisinha
A camisinha é um método de barreira, que evita que os espermatozóides entrem em contato com a vulva, vagina e útero. É prática, acessível, reversível, imediatamente eficaz, sem efeitos colaterais para a maioria das pessoas e ainda é o único método que também protege de infecções sexualmente transmissíveis.
O principal “contra” é a resistência das pessoas em utilizá-la em todas as relações sexuais, além de o bom uso depender completamente dos usuários. Ou seja: mais sujeita a falhas. Ainda existe a possibilidade de romper ou escapar, o que quase sempre está relacionado à má colocação, mau armazenamento e/ou falta de lubrificação. Veja aqui o tutorial de como utilizar a camisinha corretamente.
Taxa de falha da camisinha masculina: 2% em uso perfeito e 18% em uso típico.
Taxa de falha da camisinha feminina: 5% em uso perfeito e 21% em uso típico.
DIU de cobre
O DIU é um dispositivo que é colocado dentro do útero através de um procedimento realizado por um profissional de saúde capacitado. O cobre presente nele mata os espermatozóides, e o DIU em si causa uma pequena inflamação no útero, impedindo a fecundação e podendo impedir também uma nidação (processo de início de uma gravidez, quando o óvulo fecundado gruda na camada interna do útero).
É um método barato, reversível, imediatamente eficaz, duradouro (o mesmo DIU pode ser utilizado por até 10 anos) e com eficácia altíssima, maior que a da pílula. Isso porque ele não depende do bom uso da pessoa; simplesmente, se está dentro da cavidade uterina, está funcionando.
Os principais contras se devem ao fato de ser invasivo, necessitando de inserção profissional. Também pode ter uma adaptação complicada para algumas pessoas, com aumento dos sangramentos e das cólicas.
Taxa de falha do DIU de cobre em uso perfeito ou típico: de 0,6% a 0,8%.
Diafragma
O diafragma é como um disco, feito de silicone ou látex, que deve ser colocado dentro da vagina. Ele é um método de barreira, posicionado para vedar o colo do útero, evitando a entrada dos espermatozóides. Ele é lavável e reutilizável por até 3 anos.
Pode ser utilizado com espermicida, embora não se comercialize mais espermicida no Brasil (por causar irritações na vagina e aumentar a chance de contrair infecções). Ele existe em vários tamanhos, e precisa da medição de um profissional capacitado para isso. Isso é fundamental para o seu encaixe correto e para a sua eficácia.
Entre os contras, estão o fato de precisar colocá-lo antes da relação sexual ou algumas horas antes (requer planejamento) e a eficácia mais baixa entre os métodos de barreira. A taxa de falha para mulheres que já tiveram filhos também é ligeiramente maior do que para as mulheres que nunca tiveram.
Taxa de falha do diafragma: de 4 a 8% em uso perfeito (com espermicida) e de 12 a 29% em uso típico.
Métodos contraceptivos não hormonais baseados nos sinais de fertilidade
São métodos contraceptivos não hormonais que se baseiam na determinação do período fértil através de sinais de fertilidade, como o muco cervical. Os métodos, ao serem usados como contraceptivos, dependem da abstinência de sexo com pênis-vagina durante a janela fértil.
São pouco invasivos, podem ser seguidos em vários momentos da vida reprodutiva (não é preciso ter ciclos regulares para usá-los) e altamente eficazes em uso perfeito. Os principais contras são a necessidade de leitura e estudo, do domínio das regras do método escolhido e disciplina/rotina para seguí-las.
Entre os Métodos de Percepção da Fertilidade, o Sintotermal é o mais famoso. Suas regras se baseiam, basicamente, no muco cervical e na temperatura basal - que deve ser medida com um termômetro com duas casas decimais, todos os dias, logo ao despertar. Existem algumas vertentes deste método (TCOYF, Sensiplan, Justisse…), cada uma com suas regras e particularidades.
Existem também os métodos de Planejamento Natural da Família, como o Método de Ovulação Billings (MOB), bastante famoso.
Taxa de falha do método Sintotermal (Sensiplan): 0,3% em uso perfeito e 24% em uso típico.
Taxa de falha do MOB: 3 a 4% em uso perfeito e 24% em uso típico.
Tabelinha
O método rítmico, conhecido como “tabelinha”, é um método baseado no calendário. Assim, a tabelinha considera que os ciclos terão sempre a mesma regularidade e que é possível prever o futuro se baseando no passado.
A tabelinha, quando usada como contraceptivo, também depende da abstinência do sexo pênis-vagina durante a janela fértil. Dessa forma, quanto maior a variação de duração entre os ciclos da pessoa, maior o número de “dias de risco” pela tabelinha clássica.
E, mesmo assim, é difícil comprovar sua eficácia.
Estima-se que, mesmo em uso perfeito, a taxa de falha fique em torno de 10%! Isso porque o nosso ciclo muda, e mesmo pessoas com ciclos exatamente iguais em duração possuem datas de ovulação e dias férteis diferentes.
Aplicativos de celular que fazem a tabelinha são ainda menos “conservadores”, dando pouquíssimos dias de janela de fertilidade. Para quem não quer engravidar, é uma grande cilada. De verdade, leia esse texto sobre os apps de ciclo menstrual.
Coito interrompido (CI)
Tão antigo quanto a história da sexualidade humana, este método consiste na retirada do pênis da vagina antes da ejaculação. Dessa forma, é um alvo de muitas polêmicas, mas precisa ser falado porque é utilizado por muita gente.
No entanto, infelizmente, pela falta de informação, o coito interrompido acontece muitas vezes sozinho, sem outro método, e pior: feito no calor do momento. Decisão na hora, sabe?
Não decida seu método contraceptivo no calor do momento.
O uso correto depende de não ter tido uma ejaculação anterior naquele dia, ou de o homem ter urinado e lavado o pênis antes do próximo round. No entanto, alguns homens, por algum motivo ainda não conhecido, liberam espermatozoides antes da ejaculação. Além disso, requer muito controle para retirar o pênis bem antes da ejaculação, e mesmo os “muito experientes” erram. Se vale o risco para quem não quer de fato engravidar? Acho difícil.
Mas, a questão é que a diferença na taxa de falha do CI utilizado corretamente e do CI feito comumente é enorme.
Taxa de falha do CI: 4% em uso perfeito e 27% em uso típico.
Fazer de forma consistente o coito interrompido combinado a outro método, como DIU ou camisinha, é um potencializador da eficácia destes. Ou seja: bom! (lembrando que combinar o CI com a camisinha é utilizar a camisinha durante TODA a penetração e retirar o pênis para ejacular fora da vagina, mas ainda dentro da camisinha!)
Já utilizá-lo como único método depende dos riscos que você quer assumir. É fato: uma coisa é um casal estabilizado, já com outros filhos e boas condições para criar um próximo, optar por correr um risco maior e utilizar somente CI como contraceptivo.
Outra coisa é alguém jovem e sem condições psicológicas e financeiras de lidar com uma gestação optar pelo CI como único método, muitas vezes por pressão do namorado que não quer usar camisinha.
Vai por mim: não tem sexo bom que valha o risco de arcar com uma gestação indesejada. Sexo bom é sexo seguro e tranquilo, e convenhamos: se é bom mesmo, não tem como uma capinha fininha como a camisinha atrapalhar, né?
Não escolha seu método contraceptivo no calor do momento
Mais uma vez esse mantra, sim.
Métodos contraceptivos hormonais e não hormonais possuem princípios, regras e/ou protocolos a serem seguidos, e é justamente por isso que são chamados de métodos.
Quanto maior o seu domínio do uso correto do método escolhido, menos risco você vai correr.
No entanto, isso requer leitura, estudo. Não podemos abrir mão! Além disso, envolva seu parceiro na pesquisa sobre métodos contraceptivos e dividam as responsabilidades. É urgente a nossa necessidade de ter os homens envolvidos de fato nos assuntos de contracepção. Afinal, como dizem por aí: “ninguém faz filho sozinha”, certo?
Um abraço!
Texto por Victoria De Castro, educadora menstrual e cofundadora da Herself Educacional. Conheça a Escola da Menstruação.
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