A higiene íntima é parte necessária da rotina de cuidados diários. Ainda que pareça algo básico e “sem segredos” para muitas pessoas, há vários detalhes que podem facilitar e principalmente simplificar tanto o processo de higiene como as nossas relações com a higiene em si. Nesse sentido - e bom, como tudo na vida - é importante prezarmos pelo equilíbrio: tanto a falta de higiene como o excesso dela podem causar problemas.
Oferta e real necessidade para a higiene íntima
Hoje, facilmente nos deparamos com prateleiras de farmácias e supermercados repletas de sabonetes, protetores, lenços umedecidos, desodorantes e até perfumes “íntimos”. Ou seja, para serem utilizados diretamente na vulva e/ou na vagina. Trata-se de um nicho de mercado ocupado, em grande parte, graças aos mitos e desorientações sobre a saúde e higiene femininas e a consequente insegurança que surge por conta disso, se tornando quase parte inerente de quem vive tendo uma vulva.
É normal ter cheiro, gosto, cor, umidade? É desejável?
De fato, as propagandas e suas promessas de “frescor e limpeza” se aproveitam da preocupação excessiva em relação a possíveis odores e secreções - em boa parte das vezes, completamente normais e necessárias para a saúde vaginal. Mas todos esses produtos sem real necessidade podem causar mais prejuízos do que benefícios.
Isso acontece porque o canal vaginal interno tem seu próprio sistema de proteção, basicamente formado por bactérias do gênero Lactobacillus. Em outras palavras, são nossase ‘guerreiras da linha de frente’. Dessa forma, elas são necessárias para manter o pH da vagina ácido. Isso evita a proliferação de fungos e bactérias que possam causar algum desequilíbrio ou ameaçar a saúde dos órgãos sexuais e reprodutores.
Em conjunto elas formam, em variedade com outras bactérias e fungos, a chamada flora vaginal. Para estarmos saudáveis, essa flora precisa estar equilibrada. E, como a natureza é sábia, essa flora, quando rica nas nossas amigas Lactobacillus, tende a se regular sozinha.
Portanto, quanto mais se perturba essa flora com químicos perfumados e desnecessários, mais chance de ela se desregular e vir a causar problemas. Há, inclusive, evidências de algumas correlações entre o uso de produtos íntimos e algumas infecções vaginais e urinárias¹. Afinal, tirando a rede protetora principal, a tendência é ficar mais vulnerável à invasão ou proliferação excessiva de bactérias e fungos que não deveriam estar nesses lugares.
Como fazer a higiene íntima, então?
Precisamos, primeiramente, entender que vulvas não têm, não precisam e nem devem ter cheiro de flores. A vulva e a vagina têm odores característicos que variam para cada pessoa, mas esse odor não é extremamente forte e nem fétido. Nestes casos, que geralmente acompanhados de outros sintomas, pode ser o sinal de alguma infecção, sendo necessário visitar uma ou um ginecologista.
Também devemos diferenciar o cheiro da vagina do cheiro da virilha: ao contrário da vagina, que é uma mucosa, a virilha é uma pele com pelos e glândulas que produzem suor e cheiro. E muitas de nós passamos boa parte dos nossos dias usando calças e tecidos grossos em contato com a região.
Essas, juntando com o calor e nossas próprias atividades diárias, gera suor e o ambiente perfeito para a proliferação de bactérias que podem causar mau cheiro - e que nada têm a ver com a vagina! Aqui, a dica é dar preferência - sempre que possível e quando estiver em casa - para roupas e tecidos leves, que permitam a circulação de ar e caprichar na higiene da virilha, que deve ser mais frequente.
Aproveitando, é importante valorizar o cuidado e a frequência da higienização. Esta não necessita de vários produtos. Água e sabão neutro dão conta do recado! Na parte da virilha e em toda a região onde nascem pelos, é importante utilizar água e sabão, esfregando delicadamente para tirar todos os resíduos de suor e células mortas.
Na parte da mucosa da vulva, o sabão é opcional: importante é esfregar delicadamente e com água abundante todos os cantinhos e dobrinhas, para eliminar todos os resíduos de secreção que possam ter se acumulado.
Já a vagina (canal interno) não deve ser lavada, nem com água pura, nem com sabão, pois é autolimpante e qualquer tipo de lavagem desregularia o pH e mataria parte da flora vaginal necessária para a proteção e o equilíbrio da vagina.
A frequência da higienização durante o dia depende das necessidades e das possibilidades individuais de cada uma. Uma dica importante para quem utiliza papel higiênico ou lenços após ir ao banheiro é sempre utilizá-los de frente para trás, para evitar carregar bactérias do ânus para a vulva.
Como fazer a higiene íntima durante a menstruação?
Durante o período menstrual, os cuidados gerais continuam os mesmos, mas pode ocorrer uma necessidade de fazer a higienização um pouco mais frequente. Independente do tipo de protetor menstrual escolhido - calcinha menstrual, coletor menstrual, absorvente descartável interno ou externo, absorvente de pano -, é preciso respeitar o tempo indicado de troca e cuidar para não acumular resíduos de sangue menstrual (como pequenos coágulos) na vulva.
Cuidados com a calcinha auxiliam na higiene íntima
Ter cuidado com a limpeza das calcinhas também faz parte da higiene íntima - e é parte importantíssima! Os cuidados valem tanto para as calcinhas comuns quanto para as Herself - que, como calcinhas menstruais, precisam de um cuidado um pouco maior, até para poderem manter em perfeito estado suas funcionalidades absorvente e antimicrobiana pelo tempo prometido.
Primeiramente: sempre que comprar uma calcinha nova, lave-a antes do primeiro uso! Essa lavagem é necessária para tirar tanto os resíduos da própria fabricação e costura quanto dos toques em que ela possivelmente passou até chegar a você.
A lavagem mais recomendada é também com sabão neutro, fazendo ao menos a primeira lavagem à mão. O uso de sabão em pó e amaciantes pode causar irritações em algumas pessoas. Assim, não é o mais recomendado simplesmente colocar as calcinhas para lavar com todas as outras roupas. Uma atenção especial na hora do banho não vai levar muito tempo e pode poupar muita dor de cabeça.
Ah, é necessário lavar as calcinhas assim que retirá-la, na hora do banho. Assim, os fluidos que ficaram nela depois de um dia para lá e pra cá não vão secar e aderir ao tecido da calcinha. Se for a sua calcinha menstrual, é mais necessário ainda lavá-la neste momento, para evitar que o sangue seque e “grude” no tecido - se tornando difícil de retirar e prejudicando a funcionalidade da calcinha.
Depois de lavá-las, nada de deixá-las penduradas no box do chuveiro, já que a umidade pode facilitar a proliferação de fungos. Por isso, sempre coloque as calcinhas em local arejado. Se tiver sol, melhor ainda! Assim, elas secarão bem rápido, também.
Outra recomendação é jamais compartilhar calcinhas com outras pessoas. Calcinha é uma peça íntima e individual… Cada uma com a sua, ok? :)