Na véspera do ano novo de 2019 eu parei de tomar a pílula anticoncepcional, depois de 1 ano de "ensaio", tempo que foi necessário para que eu me sentisse pronta e com coragem de dar esse passo.
Me preparei através de muuitas pesquisas e muitas conversas com outras mulheres e com meu companheiro, porque eu tinha muito medo de parar de tomar e meu rosto encher de espinhas, ou de acabar engravidando. Uma das coisas que mais me deu segurança foi ouvir e ler o relato de outras mulheres que passaram por esse processo; encontrei alguns na internet, principalmente no grupo do Facebook chamado "Adeus Hormônios: Contracepção não hormonal". Parecia que, a cada novo relato que eu lia, meu conhecimento e minha confiança iam aumentando, mas eu ainda sentia falta de relatos mais profundos, de detalhes e de ler na íntegra sobre as mudanças que ocorreram na vida de outras mulheres ao pararem de tomar a pílula.
Também vasculhei a internet atrás de dicas de como lidar com alguns sintomas difíceis que podem aparecer na retirada: aumento das espinhas, aumento da cólica, alteração de humor, entre outros mais. Foi assim que nasceu a vontade de escrever essa série, para compartilhar minha experiência e tudo o que eu descobri com outras mulheres que hoje procuram as informações que eu estava procurando.
A Herself, que tem como propósito falar sobre educação menstrual, acolheu essa pauta e juntas vamos fazer um relato completo e criar um local de acolhimento para você que ainda toma a pílula, para você que tem pensado em parar de tomar, para você que nunca tomou ou para você que já parou de tomar.
É importante dizer, antes de começarmos, que esse relato não tem como objetivo te dizer o que você deve fazer, nem realizar julgamento sobre o que é certo ou errado. Esse relato tem como objetivo compartilhar experiências e informações para que assim possa descobrir o que é melhor para você!
Esperamos que essa história possa te ajudar! <3
Como eu comecei a tomar:
Comecei a tomar pílula com 16 anos de idade. Na adolescência, eu tinha muitas espinhas no rosto. Então, minha dermatologista me apresentou o anticoncepcional e me disse que ele resolveria meus problemas. Naquela época ninguém me explicou muito bem os efeitos colaterais que podiam aparecer com o uso das pílulas e eu também não tinha a maturidade necessária para perguntar sobre eles e entender de forma consciente a escolha que eu estava fazendo.
Minha mãe não tomava a pílula porque não fazia bem a ela, mas ela me via triste por conta das espinhas no rosto e sem alternativas - já que havíamos tentado vários tratamentos com cremes receitados por dermatologistas que não alcançaram o resultado desejado. Dessa forma, eu comecei a tomar, minhas espinhas foram diminuindo e eu me senti linda. Mais tarde, quando comecei minha vida sexual, me senti protegida, afinal já tomava pílula há 4 anos. Continuei tomando, dia após dia.
Com 20 anos percebi que dores de cabeça começavam a ser cada vez mais frequentes. Fui no médico, fiz muitos exames, mas só quem me disse que a pílula poderia ter algo a ver com isso foi a minha mãe, porque um dos motivos de ela optar por não tomar a pílula era justamente esse: ela sentia dores de cabeça constantes e também enjôos. Mas eu duvidava que as dores de cabeça que eu sentia poderiam vir do uso da pílula: como poderia o anticoncepcional ter algo a ver com aquilo? Afinal, minha pele estava bonita e eu me sentia segura no sentido de saber que não engravidaria. Nenhum médico que eu fui nessa época mencionou que esse poderia ser um efeito colateral da pílula. Me receitaram remédios para controlar as dores, e foi assim que eu comecei a tomar analgésicos para as dores de cabeça.
Essas dores foram aumentando, e eu percebi que na semana de pausa da pílula elas pioravam: eu precisava ir ao médico para controlar crises de enxaqueca. Por sugestão da minha mãe, eu marquei uma consulta com minha ginecologista para conversar sobre as dores de cabeça que eu estava sentindo e ela disse que poderia sim ser um efeito colateral da pílula e sugeriu que eu tomasse não mais 21 pílulas, mas sim 28, sem realizar a semana de pausa. Dessa forma, meu corpo não oscilaria tanto hormonalmente e as dores de cabeça diminuiriam. Com isso, as dores de cabeça se tornaram constantes, mas toleráveis com analgésicos (que eu comecei a usar praticamente todos os dias). Eu não precisava mais ir ao hospital com enxaqueca na semana de pausa, porque agora eu não menstruava mais.
Porque eu decidi parar:
No começo eu achei que tomar anticoncepcional de uso contínuo (ou seja, sem pausa) era um bom negócio, eu ouvia todo mundo dizer que menstruar era ruim, e agora eu tomava um comprimido por dia que melhorava a minha pele, me protegia de engravidar e fazia com que eu não menstruasse.
Foi com 26 anos, mais madura e atenta, que comecei a me questionar de novo sobre os efeitos colaterais da pílula: meu corpo inchava de uma forma que não fazia com que eu me sentisse bem, minhas dores de cabeça haviam se tornado crônicas, minha libido era baixa e eu ouvia cada vez mais mulheres contando sobre suas experiências de retirada da pílula e como descobriam novas e incríveis camadas sobre si mesmas.
Nesse mesmo período, na faculdade, eu estava estudando sobre história das mulheres e tive a oportunidade de começar a trabalhar com a Herself, marca de calcinhas menstruais que também trabalha com o tema "Educação Menstrual". Na Herself, eu conheci e conversei com muitas outras mulheres sobre como era o ciclo menstrual delas, sobre saúde menstrual e também sobre pílula anticoncepcional. Todo esse aprendizado direcionou minha atenção para o meu próprio corpo e para como eu me conectava com meus ciclos internos.
Os aprendizados que tive através da faculdade e da Herself permitiram que eu me conectasse com outras mulheres, e percebi que, com o uso de anticoncepcional contínuo, fazia 6 anos que eu não menstruava mais. Estudava sobre o feminino mas não tinha uma parte muito bonita dele, que é a menstruação. Com isso, não entendia nada sobre o meu ciclo interno e sobre suas oscilações. Me sentia desconectada da minha feminilidade, como se eu tivesse na superfície de um mar muito profundo e a pilula fosse a correnteza que me mantinha na beira.
_________
No próximo episódio eu conto como eu me preparei para atravessar essa correnteza (que outros métodos contraceptivos eu escolhi) e o que aconteceu depois disso, tá?
Leia o episódio 2 da série "Parei de tomar pílula, e agora?"
Enquanto isso, se você quiser ler mais sobre o assunto, tem esses dois textos aqui no blog que podem te ajudar:
https://blog.herself.com.br/como-parar-o-anticoncepcional/
https://blog.herself.com.br/contracepcao-nao-hormonal-como-prevenir-a-gravidez-sem-anticoncepcional/
Nós queremos te ouvir, nos conta aqui nos comentários qual a sua história com a pílula anticoncepcional e o que você quer saber sobre esse processo de retirada!
Com carinho, Fran.
@franbitten