O padrão de beleza refere-se às normas estéticas impostas pela sociedade. Ou seja, são padrões culturais, que vão variar em cada período histórico e contexto.
Esse padrão de beleza ideal é formado pela ideia de belo - que pode mudar a todo momento. Hoje, não apenas é formado pela mídia, como também pelas necessidades de mercado, influenciando nossos comportamentos e noções de gosto.
Consequências da busca pelo padrão de beleza idealizado
Em primeiro lugar: você já parou pra pensar em todas as consequências que envolvem essas imposições de padrão de beleza?
Elas são inúmeras e incluem a angústia, depressão, distúrbios alimentares como bulimia e anorexia, obsessão pela magreza e procedimentos cirúrgicos estéticos.
Por isso, entender como esses padrões são formados e criar outras referências é essencial. Vamos nos aprofundar sobre o tema? Veja mais!
Padrões de beleza impostos pela sociedade
Existem variados padrões de beleza impostos pela sociedade - e eles varia conforme localidade e tempo histórico, também. Confira alguns na sequência:
A pele "perfeita"
Com o intuito de criar necessidades de consumo, padrões inalcançáveis surgem. Tanto a indústria de cosméticos, quanto a indústria da moda estão envolvidas nisso.
Quando nos sentimos insatisfeitas com a nossa pele, por exemplo, recorremos a produtos de skincare que parecem ser infinitos. E, não só isso, buscamos procedimentos que “corrijam” o que julgamos imperfeito. Como já citamos aqui, o padrão de beleza da pele perfeita é um dos mais presentes na nossa sociedade. Como resultado, sonhamos com uma pele jovem, sem manchas e sem poros. Ou seja: uma pele artificial e inexistente.
A publicidade, nesse contexto, é a ferramenta que vende esses ideais. Não à toa, em 2011, o Reino Unido baniu duas propagandas de marcas de beleza pelo excesso de retoque nas fotos.
Além disso, existem outras iniciativas questionando o uso excessivo de Photoshop, pelo tamanho do problema. Como a Celeb Face (@celebface), página que denuncia as manipulações nas fotos.
Abaixo, exemplo da exposição de marca de biquíni, que modificou a foto da modelo na sua campanha:
Foto que ilustra foto manipulada ao lado da versão original de modelo em desfile de moda. Reprodução: Instagram / Créditos: Celeb Face
Falta de diversidade nas campanhas de moda
Mas se engana quem pensa que o Photoshop é o único problema das imagens que circulam por aí. Da mesma forma, uma questão substancial é a falta de diversidade em campanhas publicitárias.
Um artigo da Folha de S. Paulo entrevistou profissionais negras para entender a falta de diversidade nas propagandas. O problema é geral: as agências publicitárias ainda são repletas de pessoas brancas, de classe média.
Finalmente, quando há pessoas negras nesses times querendo promover mais diversidade, vem outras barreiras. Como por exemplo, convencer os líderes de marketing das empresas, também em sua maioria brancos, a aprovarem essas modelos. Por trás disso, há um equívoco em entender o papel da negritude no consumo, já que mais de 50% da população do Brasil se declara negra.
No final, fica difícil promover pluralidade assim, né?
Um contexto histórico sobre o padrão de beleza
É verdade que a diversidade está em pauta e que a indústria da moda vem se abrindo para novos corpos e existências. Apesar disso, o movimento é muito recente e tem um caminho longo de mudança.
Veja mais: Foi só em 2020 que a Vogue Brasil teve sua primeira capa com uma mulher negra e gorda.
Ao longo da história, os padrões de beleza foram mudando, mas como nos lembra a pesquisadora Rosita Esteves (2021) o que permaneceu na história foi a preocupação constante com a beleza e o corpo em evidência.
Em meados do século 50, havia uma forte influência do cinema norte-americano para ditar padrões. Um exemplo foi Marilyn Monroe, com seu corpo magro, mas repleto de volumes. Os seios e quadris largos, com cintura bem marcada formavam o imaginário de padrão vigente.
Marilyn Monroe em ensaio na praia. Reprodução / Créditos: Saw Shaw
Já nos anos 60, esse modelo começou a mudar. A imposição da magreza excessiva foi marcada pela modelo britânica Twiggy. Ela foi considerada a primeira top model do mundo e inaugurou a ideia do corpo magérrimo.
Retrato da modelo Twiggy em ensaio de 1966. Reprodução: Instagram / Créditos: Barry Lategan
O padrão de beleza no Brasil
Por aqui, o culto ao corpo também está enraizado na nossa cultura. Não à toa, em uma pesquisa o Brasil ficou em primeiro lugar no ranking de cirurgias plásticas. São aproximadamente 1.5 milhões de cirurgias ao ano.
Os procedimentos mais feitos foram lipoaspiração e implante de silicone, o que faz sentido num contexto em que a magreza e os seios harmônicos e grandes imperam.
Esse movimento é presente desde os anos 90, no boom dos procedimentos estéticos. Por muito tempo, a modelo Gisele Bündchen foi aclamada como musa pelo Brasil afora. Ela se tornou referência de beleza brasileira: o segredo era ter a barriga chapada, pernas compridas, cabelo loiro e pele branca bronzeada.
Da mesma forma, o racismo também é essencial nessa conversa. O corpo negro é sempre objetificado. Assim, a ideia de mulher negra “aceitável” aos olhos da sociedade é magra, com quadris largos, com seios e bunda grande. Um estereótipo pra lá de racista, que hipersexualiza e desumaniza esses corpos.
Indicamos, inclusive, essa palestra da antropóloga Miriam Goldenberg sobre o "corpo como capital". Lá, ela explica sobre o corpo como esse objeto de desejo, que precisa ser malhado, magro e jovem.
A influência da mídia no padrão de beleza
Se ao longo da história percebemos a influência das revistas de moda, beleza e do cinema no padrão de beleza, hoje, existem muitos outros canais envolvidos nisso. A Internet tornou-se a mídia que mais influencia os comportamentos sociais.
O sociólogo francês Guy Debord, lá em 1967, já tinha definido o conceito de sociedade do espetáculo. A ideia consiste de que na sociedade contemporânea, parecer é mais importante do que ser ou ter. O Instagram, repleto de imagens de vidas "perfeitas", reflete muito bem esse pensamento, né?
Nesse sentido, o papel dos influenciadores é essencial. Já que o consumo de imagens não se restringe mais ao cinema e a TV, e somos bombardeados de estímulos o tempo inteiro.
Por isso, a responsabilidade dos criadores aumenta. Nesse ano, a Noruega aprovou uma lei que exige que as influenciadoras sinalizem se alteraram seus corpos nos posts patrocinados. A medida tenta reduzir a pressão corporal aos seguidores.
Não sigo o padrão de beleza. Como se posicionar e mudar o entendimento da sociedade?
Reprodução Twitter. / Créditos: Jéssica Batan
Como vimos aqui, a mudança precisa ser estrutural e poderíamos evitar manipulações de imagem se o poder público tivesse mais diretrizes e fiscalização sobre o tema. Enquanto isso, fazemos a nossa parte apoiando quem se preocupa em fazer diferente.
Então como seria cobrar dos influenciadores e das empresas um posicionamento quanto a isso? Afinal, não faltam marcas prometendo “calcinha que diminui celulite” por aí, não é mesmo?
Da mesma forma, ao passo que as marcas percebem suas vendas ou anunciantes diminuindo, elas passam a mudar a maneira de fazer marketing e publicidade, pois entendem que estão perdendo dinheiro. Não consumir dessas empresas também pode ser um posicionamento.
Por esse motivo, nossa posição é clara: nossos corpos são reais e únicos. Somos mulheres que sangram - ou não -, decidimos ter pelos - ou não -, mas temos nossas curvas, marquinhas, secreções, cheiros. No fim, todas nós devemos ouvir nossas próprias subjetividades e construir a identidade que faz sentido. Portanto, quem somos não pode caber num padrão!
E como estamos agindo, de forma prática, nesse sentido?
- Mais de 50% das modelos que participam das nossas campanhas são negras;
- Mais de 50% das modelos que participam das nossas campanhas são modelos gordas;
- A Herself proíbe o uso de photoshop para clarear, uniformizar, apagar poros ou qualquer prática que modifique o corpo e a pele das modelos.
- Não reforçamos discursos de “corrigir” ou ”esconder” estrias, celulites ou marquinhas. Temos produtos pra que você se sinta confortável sendo do jeitinho que você é ou quer ser.
E aí, que tal se perguntar quais são as práticas das marcas que você consome?