"Parei de tomar pílula, e agora?" é uma nova série do blog Herself na qual eu conto, na forma de relato, sobre o meu processo de parar de tomar anticoncepcional. Se você ainda não leu o episódio 1, clica aqui :)
Eu já contei no primeiro episódio sobre como comecei a tomar a pílula com 16 anos de idade e sobre os motivos e sintomas que me fizeram ter vontade de parar. No episódio de hoje vou falar sobre como me preparei para isso e sobre como escolhi outro método contraceptivo.
É importante dizer, antes de começarmos, que esse relato não tem como objetivo te dizer o que você deve fazer, nem realizar julgamento sobre o que é certo ou errado. Esse relato tem como objetivo compartilhar experiências e informações para que assim possa descobrir o que é melhor para você!
Vamos juntas?
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Como me preparei
Durante um ano, desde que me conscientizei que as dores de cabeça e a baixa libido que eu sentia muito possivelmente podiam ter algo a ver com o anticoncepcional - além da falta de entendimento sobre o meu ciclo interior -, decidi conversar com outras mulheres sobre tudo isso, contar como eu me sentia e principalmente ouvir como era a experiência delas.
Descobri que a maioria das minhas amigas tomava anticoncepcional desde muito novas. Ou então, nos últimos anos, tinha optado por parar, mas havia tomado por muito tempo antes disso. Conversando com as mulheres que pararam de tomar, descobri que os motivos delas e os meus eram bem parecidos (dor de cabeça, inchaço, baixa libido, falta de autoconhecimento, transtorno de humor, etc). Comecei a entender que eu não estava sozinha em meus devaneios. Muitas outras mulheres passavam pelas mesmas coisas e tinham muito a compartilhar sobre os aprendizados que estavam tendo.
Percebi que muitas de nós sentíamos medo de engravidar durante esse processo de retirada da pílula - afinal, desde pequenas nos disseram que para nos prevenir de uma gravidez era praticamente obrigatório o uso de pílula, porque os homens não gostavam de usar camisinha. Além disso, muitas de nós também sentíamos medo de voltar a ter espinhas.
O medo, entretanto, é uma porta para a coragem. E eu vi muita coragem nas histórias que minhas amigas me contaram.
Vi mulheres que pesquisaram muito sobre outras alternativas para se prevenir de gravidez, para controlar a acne e também para entender qual a melhor forma de viver a TPM. Elas foram atrás de informações na internet e também através de outras mulheres, porque dificilmente encontramos um(a) médico(a) que apoie essa decisão de parar de tomar a pílula e de fato nos instrua sobre como fazer isso - ao invés de tentar nos convencer a continuar tomando, apesar de todos os sintomas que fomos relatar.
Foi assim que me aproximei de outras mulheres: compartilhando sobre meu ciclo menstrual, meus medos e minhas dúvidas e, claro, ouvindo sobre o ciclo menstrual delas e sobre seus medos e dúvidas também. A cada nova conversa eu me sentia com mais coragem e mais madura, e sabia que elas também se sentiam assim. Afinal, compartilhar informações entre mulheres é uma das formas mais antigas de passar conhecimento.
Qual outro método contraceptivo usar?
O que eu mais sentia receio era engravidar se parasse de tomar a pílula.
Não sei exatamente quando, mas fui convencida pela mídia, pelos médicos e até por mim mesma que a pílula anticoncepcional era o único método que me deixaria realmente segura e protegida de uma gravidez não planejada. Acontece que o preço que eu estava pagando com minha saúde era alto demais para continuar daquela forma, e eu precisava encontrar outra alternativa que também me trouxesse segurança.
Em minhas conversas entre mulheres, percebi que muitas usavam só camisinha, outras usavam DIU de cobre, faziam coito interrompido, tabelinha ou, ainda, controle de fertilidade através do muco e até temperatura.
Eu percebi que para encontrar um outro método contraceptivo eu precisava conhecer o meu corpo, conversar com minha guia interior e me perguntar o que eu queria fazer, como eu iria me sentir mais confortável e segura.
Minha resposta interna foi a de que eu precisava de mais informações e assim dediquei um bom tempo para pesquisar sobre os métodos contraceptivos no Google.
Encontrei dois grupos no Facebook que me trouxeram importantes questionamentos e também perspectiva, no sentido de mais uma vez perceber que eu não estava sozinha (e isso foi muito importante durante todo esse processo).
O primeiro deles é o Adeus Hormônios: contracepção não hormonal. Através dele, descobri também o grupo DIU de Cobre. Ambos os grupos são fechados e você precisa pedir autorização para entrar.
Nesses grupos existem muitas mulheres compartilhando seus relatos e experiências e então, aqui, vale uma nota importante: ao ler o relato de outras mulheres (inclusive esse aqui que eu estou fazendo) lembre-se que são experiências de outras pessoas. Que cada relato é muito particular e pessoal. Quando eu leio um relato, o faço para aprender mais sobre outras experiências e gosto de ler mais de um porque cada corpo funciona de uma forma: o que funciona para uma pode não funcionar para todas. Então pesquise, mas se lembre que acima de tudo só você sabe o que é melhor para o seu corpo.
Dito isso, nesses grupos encontrei muitos relatos, muitos caminhos e possibilidades de contracepção sem anticoncepcional. Percebi que muitas mulheres utilizam mais de um método, por exemplo: camisinha + tabelinha. Ou: DIU + coito interrompido. São muitas as possibilidades e vou deixar mais aqui abaixo um texto para você conhecer sobre todas essas opções.
Para mim, o DIU de cobre e a camisinha foram os que mais me chamaram atenção. Então, fui em uma médica para conversar sobre o DIU de Cobre, já estava pensando seriamente em colocar. Porém, ainda estava em dúvida, porque usava pílula há anos e não queria colocar um dispositivo dentro do meu corpo nesse primeiro momento.
Eu percebi que queria fazer uma "desintoxicação" e, pelo menos por um tempo, entender como era o meu ciclo e como era a minha menstruação sem nenhuma outra interferência que causasse alguma alteração nele. Mas vale dizer que achei o DIU de cobre um excelente método, no sentido de ter uma alta taxa de eficácia e de não conter hormônios - talvez alguma dia eu coloque, para entender como o meu corpo reage a ele.
Então, conversei com a minha mãe sobre a camisinha e ela me ajudou muito. Me disse que se eu fosse escolher ela como principal método contraceptivo que precisava usar sempre, desde o começo do ato sexual. Sempre, sempre e sempre, sem exceção.
Conversei também com meu companheiro. Desde o começo, ele me incentivou a tomar a decisão que eu achasse ser a melhor para mim. Me disse que se comprometeria a usar sempre a camisinha junto comigo. Se você está em um relacionamento com um homem é bem importante ter esses acordos bem fortalecidos entre o casal, para que os dois se sintam seguros e confortáveis.
A escolha
Juntando todas as informações que eu pesquisei decidi escolher a camisinha como principal método contraceptivo e esses foram os meus motivos:
- Com a camisinha eu não precisaria mais tomar hormônios, nem utilizar um dispositivo que ficasse dentro do meu corpo e alterasse meu fluxo menstrual.
- A camisinha é o único método que protege, de fato, de doenças sexualmente transmissíveis. Mesmo que eu utilizasse outro método, nenhum protegeria dessas doenças como a camisinha protege.
- Eu tomei pílula anticoncepcional durante muitos anos e não conhecia como funcionava meu ciclo. Queria entender, sem nenhuma influência, como o meu corpo funcionava. Inclusive para fazer tabelinha ou controle de muco, primeiro eu precisava conhecer melhor meu corpo e eu estava disposta a isso.
- Eu conversei com meu parceiro e nos comprometemos a usar a camisinha sempre e no começo do ato sexual, isso me deixou mais segura, pois eu sei que a taxa de eficácia desse método depende da forma com que ele é utilizado.
- Eu sei que encontrar o método contraceptivo que melhor se adeque ao nosso momento de vida requer testes, e eu resolvi começar dessa forma, entendendo que a qualquer momento eu posso procurar outro método se assim eu quiser.
Assim, eu escolhi meu novo método contraceptivo e decidi, de fato, parar de tomar a pílula.
Se você quer saber como foi meu primeiro mês sem a pílula depois de tomá-la por 10 anos, fica atenta aqui no blog para ler o próximo episódio! :)
Leia o episódio 3 da série "Parei de tomar pílula, e agora?"
Me conta aqui embaixo que método contraceptivo você usa! Vou adorar saber também da sua experiência.
Com carinho, Fran.
@franbitten
Se você quiser saber mais sobre contracepção não hormonal, leia esse texto incrível sobre o assunto